Comércio deixou de faturar R$ 40,9 bilhões nos últimos 12 meses

Estudo da CNC mostra que corte na taxa Selic pouco contribuiu para a queda dos juros ao consumidor no período. Empréstimos e financiamentos ficaram até 14,7% mais caros

Estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o comércio varejista poderia ter vendido R$ 40,9 bilhões a mais nos últimos 12 meses até abril deste ano, se o corte na taxa básica de juros tivesse sido repassado integralmente para as taxas de juros na ponta cobradas do consumidor.

Com base na elasticidade entre o custo de crédito ao consumidor e a concessão de recursos, a CNC estimou que, nos últimos 12 meses encerrados em abril, as concessões de crédito teriam crescido nominalmente 18,0% e não 10,3%, conforme revelam os próprios dados da autoridade monetária. A taxa de juros, que em dezembro do ano passado havia atingido o nível mais baixo (29,0% ao ano) desde setembro de 2013 (28,4%), voltou a subir ao longo dos quatro primeiros meses de 2019, alcançando, em abril deste ano, 31,7%, de acordo com levantamento mensal realizado pelo Banco Central.

“Para o consumidor, o não repasse integral da queda dos juros básicos às taxas finais representou um maior peso na parcela mensal dos financiamentos, especialmente diante da relativa estabilidade da massa de rendimentos nos últimos 12 meses, e neste cenário a queda modesta dos juros drenou recursos do setor produtivo para o setor financeiro”, explica Fabio Bentes, economista-chefe da CNC.

Bentes destaca que diversos fatores tais como custos de captação, inadimplência, tributação, despesas administrativas e margem financeira dos bancos ajudam a explicar a evolução dos spreads bancários no Brasil. “Ademais, a baixa concorrência no mercado financeiro do País é um dos principais fatores explicativos da limitada aderência entre os juros básicos e os custos finais de crédito”, complementa.   

Setores mais afetados

Os segmentos nos quais o grau de dependência das condições de crédito tende a ser maior foram os mais afetados pela não linearidade no corte da taxa final, tendo o comércio automotivo ocupado o primeiro lugar – a perda estimada, neste segmento, de R$ 23 bilhões correspondeu a 56% da perda total do varejo. Além da relevância desse segmento para o comércio – o segundo maior em faturamento anual –, o crédito cumpre um papel fundamental para a materialização das vendas. Para cada aumento de um ponto percentual na concessão de crédito, o volume de vendas cresce 0,86 ponto percentual. Assim, em vez do avanço atual de 10,3%, o volume de vendas apurado seria maior (14,3%).

Em seguida, destacaram-se os impactos negativos nos ramos de materiais de construção (R$ 5,8 bilhões ou 14% do total), lojas de móveis e eletrodomésticos (R$ 3,4 bilhões ou 8,3% do total) e o segmento de vestuário e calçados (R$ 2,7 bilhões ou 6,6% do total).

Acesse a análise completa da Divisão Econômica da CNC.

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